E se a gasolina acabasse?
A falta do combustível em São Paulo suscita a discussão: quais os caminhos possíveis?
por Redação Galileu
Caminhão transportando gasolina na paralisação de motoristas // Crédito: YASUYOSHI CHIBA / AFP
Durante a segunda semana de março de 2012, nenhum dos postos de São Paulo tem gasolina disponível, segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo. Isso se deve a uma greve dos motoristas que fazem o transporte do combustível. Estima-se que a situação se estenda até o início da próxima semana, o que será suficiente para sobrecarregar o transporte coletivo da cidade. Mas o que aconteceria se esse problema se tornasse permanente? Em outras palavras: e se a gasolina acabasse?
Demoraria um bom tempo até as cidades voltarem a funcionar normalmente. Atualmente, no Brasil, são consumidos 35452 bilhões de litros de gasolina comum por ano (segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis - ANP). Os ônibus de transporte coletivo estariam “seguros”, já que usam diesel ou biodiesel, combustíveis menos visados na crise de São Paulo por não serem usados na maioria dos veículos normais, mas os sistemas das cidades ficariam sobrecarregados. A dificuldade de locomoção faria com que os municípios, praticamente, parassem.
A situação em São Paulo é atípica – obviamente, é impossível que esse fenômeno aconteça de um dia para o outro por “causas naturais” e que apenas a gasolina pare de ser produzida. Caso isso venha a acontecer no futuro, será um processo gradual, causado pelo esgotamento das reservas de petróleo, matéria prima não só da gasolina, mas do álcool e do diesel. O preço desses combustíveis aumentaria e, aos poucos, alternativas seriam buscadas antes que os recursos chegassem ao seu fim.
As alternativas
No Brasil é possível que o etanol hidratado, derivado da cana-de-açúcar, se tornasse o combustível da vez – afinal, já é o combustível sem origem fóssil mais consumido no Brasil (dados da ANP). No entanto, para suprir a necessidade brasileira, os canaviais atuais não seriam suficientes e precisaríamos tomar terras dedicadas à agricultura de produtos alimentícios para produzir o necessário, atrapalhando a distribuição de alimentos e também a renda do país.
Um hectare inteiro de cana, por exemplo, é suficiente para produzir 7500 litros do combustível – fazendo as contas, seria necessário que uma área equivalente ao estado do Espírito Santo inteiro fosse dedicada às plantações, caso o etanol substituísse completamente a gasolina. Ou seja: o consumo precisaria ser diminuído.
A outra possibilidade imediata seria o uso de gás natural. Mais ecologicamente correto que a gasolina, ele emite 60% de carbono a menos, segundo pesquisa da UFRJ. No entanto, converter um veículo normal para esse novo “regime” não sai barato: 4,5mil reais, em média, de acordo com a Comgás. Além disso, como o gás é pressurizado e colocado em cilindros, ele deixa o carro mais pesado, diminuindo os quilômetros rodados por metro cúbico e aumentando o seu custo. Tanto que, ao contrário de outros combustíveis, seu uso vem diminuindo no Brasil
Ainda há outras soluções, como carros elétricos, que seriam viáveis no Brasil pelo grande potencial hidrelétrico do país. Apesar de serem menos eficientes em termos de velocidade e relativamente caros (um Palio elétrico, por exemplo, custa 40% a mais do que a versão normal), o uso desses veículos causaria uma grande mudança no ar de grandes metrópoles, aumentando a qualidade de vida local.
A conclusão? Não há dúvidas de que a vida de quem mora em grandes cidades ficaria mais complicada em um primeiro momento – o trânsito e, por consequência, as indústrias seriam prejudicados. Mas como a ciência caminha para achar alternativas aos combustíveis fósseis (e essa transição já está acontecendo aos poucos), não demoraria muito para que nos adaptássemos a um novo tipo de transporte. Soluções não faltam.
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