A ‘lista de desejos’ de Robert Boyle
Voar, viver mais e curar a distância estavam entre os projetos científicos que o cientista irlandês do século 17 esperava ver realizados no futuro.
Detalhe de retrato de Robert Boyle pintado por volta de 1689 por Johann Kerseboom. Medicamentos para melhorar a memória, exaltar a imaginação e promover sono tranquilo e sonhos agradáveis estão na ‘lista de desejos' formulada por ele há mais de 300 anos.
Se vivesse nos dias de hoje, o filósofo natural irlandês Robert Boyle (1627-1691) talvez pudesse ser visto usando algum aplicativo de geolocalização em seu iPhone enquantoaguarda a chamada de um voo na sala de embarque do aeroporto de Dublin.
As maravilhas tecnológicas do século 21 decerto encantariam Boyle, considerado um dos fundadores da química moderna – os estudantes de segundo grau o conhecem pela lei que leva o seu nome, segundo a qual o volume de um gás varia com o inverso da sua pressão.
E não é por acaso: voar como os pássaros e determinar longitudes de forma precisa –algo feito de forma instantânea com a tecnologia de GPS (sistema de posicionamento global), embutida em muitos smartphones de hoje – estavam entre os sonhos do químico e físico irlandês.
Hoje podemosdeterminar longitudes deforma precisa e instantânea com atecnologia de GPS
Itens como esses foram incluídos por Boyleem uma 'lista de desejos' que ele elaborou há mais de 300 anos, apresentada recentemente no blogue da Royal Society. A enumeração reúne projetos científicos que o filósofo natural – como eram chamados os cientistas naquelaépoca – esperava ver realizados no futuro.
É interessante notar que, entre os 24 itens dalista, estão objetivos que, três séculos depois, permanecem entre os anseios dahumanidade, como o prolongamento da vida.
Esse desejo, é verdade, se concretizou em parte desde então. Alguém que nascesse naInglaterra do século 17 não tinha a expectativa de viver além dos 40 anos [PDF]; hoje, aesperança de vida no Reino Unido é de 79 anos – praticamente o dobro do que era naépoca de Boyle.
Desejos possíveis e impossíveis
Outros desejos do irlandês refletem avanços da ciência e tecnologia desde então, comoa cura de doenças por meio de transplantes e drogas para diminuir a dor. A própria “artede voar” – desejo de número 3 da lista de Boyle – se tornou possível com aviões,asas-deltas e outros equipamentos.
A transmutação de metais – velho sonho dos alquimistas que não poderia ficar de fora da lista de Boyle – também está ao alcance da ciência de hoje. O advento dosaceleradores de partículas permitiu levar adiante as possibilidades abertas com os trabalhos pioneiros do físico britânico Ernest Rutherford (1871-1937) no início do século 20.
Mas alguns dos itens da agenda científica de RobertBoyle para os séculos por vir permanecem na esfera daficção. Recuperar a juventude ainda é um desejo inalcançável, apesar dos avanços da medicina e dacirurgia plástica. O fim da necessidade de sono e acapacidade de atingir dimensões gigantescas também soam como perspectivas irreais.
A lista completa de Boyle pode ser consultada no blogue da Royal Society – a mais antiga academia de ciências do mundo, criada em 1660 (Boyle foi um de seus fundadores). O leitor que estiver em Londres podeconferir de perto o manuscrito do irlandês, que está noacervo da exposição Royal Society: 350 anos de ciência, em cartaz até 18 de novembro.
Debora AntunesCiência Hoje On-line
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