sexta-feira, 4 de maio de 2012


Como a polêmica da usina de Belo Monte pode cair no vestibular

Ana Prado | 11/04/2012A usina de Belo Monte, que está sendo construída na Bacia do Rio Xingu, no Pará, gera polêmica há algum tempo por causa da questão ambiental. No fim de 2009, especialistas questionaram o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) feito pelo governo e a viabilidade do empreendimento.

O índio Olavo Wapichana, de Roraima, durante protesto contra a construção da Usina de Belo Monte (Antônio Cruz/ABr)
Movimentos sociais, indígenas e ambientais, do Brasil e do exterior, também chamaram a atenção para os impactos que a instalação da usina teria na região. Quando o Ministério do Meio Ambiente concedeu a licença ambiental prévia para sua construção, em 2010, os debates ficaram ainda mais intensos. Para os movimentos sociais e as lideranças indígenas da região, os impactos socioambientais foram ignorados pelo governo.
Este ano, no final de março, a usina ganhou mais destaque após um acidente de trabalho matar um homem que trabalhava na sua construção. Isso fortaleceu as reinvindicações de outros trabalhadores por melhores condições e maiores salários, resultando em greves que afetaram os principais canteiros de obras.
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A hidrelétrica é considerada a maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal , e será a terceira maior do mundo quando estiver concluída – o que deve ocorrer em 2019. Ela ficará atrás apenas da Usina de Três Gargantas (China) e Itaipu (Brasil/Paraguai).
As usinas hidrelétricas Santo Antônio e Jirau, em construção no Rio Madeira (em Rondônia), também foram alvo de polêmicas. Além dos impactos sociais e ambientais, seus operários enfrentam péssimas condições de trabalho e têm feito greves reivindicando redução de horas e melhores condições. Ambas também fazem parte do PAC e devem ficar prontas em 2013.
Por que isso é importante para o vestibular?
Segundo o professor de Geopolítica do Cursinho da Poli Fabio Kazama, se a questão ambiental já estava em alta nos anos anteriores, quem vai prestar vestibular agora precisa estar ainda mais inteirado do tema. E isso se deve a três fatores, além da já referida polêmica que fez o tema ganhar destaque nos noticiários:
1. Em 2012 acaba a vigência do Protocolo de Kyoto, tratado internacional assinado em 1997 no Japão para a redução dos gases de efeito estufa.  Em dezembro de 2011, os países reunidos na 17ª Conferência das Partes realizada em Durban, África do Sul, estabeleceram novas metas até 2015, mas não se chegou a um acordo real. Um substituto deve ser definido ainda este ano, durante a conferência Rio+20 (ou Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável), a ser realizada em junho no Rio de Janeiro.
2. A questão da divisão territorial do Pará, com o plebiscito que ocorreu em 2011, também pode colocar o tema do meio ambiente em pauta. A usina de Belo Monte deve ficar no território que pertenceria ao Estado de Tapajós e seria uma importante fonte de renda para ele.
3. O geógrafo Aziz Nacib Ab’Saber, um dos maiores especialistas brasileiros em geografia física que faleceu em março deste ano, era conhecido por ser contra a construção da usina de Belo Monte e defini-la como “um grande desastre ambiental”.
“Este ano, assim como no ano passado, a tendência é que questões ambientais caiam fortemente na maior parte dos vestibulares, especialmente nos mais tradicionais, como USP, Unesp, Unicamp – e também no Enem”, disse o professor Fabio.
O que mais é preciso saber sobre o tema?
É importante que o estudante tenha conhecimento dos biomas brasileiros, especialmente da Floresta Amazônica (área atingida pela construção), e esteja por dentro dos impactos que a usina poderá ter ali – tanto os ambientais quanto os sociais e econômicos.
- Impactos ambientais
As críticas em relação ao projeto apontam para o fato de que ele provavelmente significará que a maior floresta tropical do planeta (a Amazônia) teria uma significativa perda da cobertura vegetal e muitas espécies de peixes deixariam de existir. Eles teriam dificuldade de subir o Rio Xingu para se reproduzir e acabariam morrendo. “A ideia do governo é construir uma ’escada‘ para permitir a subida e tentar diminuir o impacto. Mas, mesmo assim, nem todos os peixes fariam o mesmo caminho e conseguiriam chegar lá”, explicou o professor Fabio.

Manifestantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) protestam em frente ao Ministério de Minas e Energia, na Esplanada dos Ministérios (Antônio Cruz/ABr)
- Baixa eficiência energética
A construção da usina visa suprir o aumento da demanda de energia elétrica no Brasil, que hoje é a sexta potência mundial. Porém, os críticos do projeto apontam que ela terá uma baixa eficiência energética no período de estiagem. Nessa época, que dura de quatro a cinco meses, a hidrelétrica produziria apenas 40% de sua capacidade total.
- Impactos sociais
A construção da usina vai exigir que tribos indígenas localizadas próximo à cidade de Altamira, no Pará, sejam removidas para uma nova cidade a ser estabelecida em uma região próxima. Mas, além dos problemas sociais que isso pode acarretar, essa medida ignora questões culturais. Por exemplo, os índios se recusam a deixar para trás os mortos que enterraram no solo de sua tribo, fator importante em sua cultura e religião.
- Questões políticas
A construção das usinas do PAC favorece o governo ao usar uma fonte renovável para suprir energia ao país por um custo menor e evitar apagões como o que ocorreram no passado. “O Brasil precisa investir em infraestrutura energética pra não ter um colapso. Além disso, essa seria uma forma de o governo gerar milhares de empregos na região, o que é uma importante bandeira política”, explicou o professor Fabio. “O problema é avaliar a que custo isso poderá ser feito”, completa.
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Fonte: Guia do Estudante

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