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quarta-feira, 26 de setembro de 2012


Transdisciplinaridade: Enem preza pela unidade do conhecimento

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O Enem não privilegia o aluno que automatiza o saber, mas aquele com olhar crítico
Ilustração: NE10

Do NE10
Uma questão sobre temperatura que necessita de interpretação de gráficos e articulações entre termodinâmica e climatologia, além da compreensão do enunciado. Para responder à pergunta, o aluno deve integrar conhecimentos de geografia, física, matemática e português. Essa é a ideia principal da transdisciplinaridade, termo originalmente criado por Jean Piaget em 1970. Abordagem científica que visa a unidade do saber, essa proposta está cada vez mais presente nos vestibulares do País, em particular no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
O professor de biologia do Colégio Motivo, Fábio Menezes, só vê vantagens nessa forma de avaliar o aluno, já que o conhecimento na atualidade é global e conectado. Aliás, os saberes sempre estiveram integrados, mas a herança cartesiana apresentou as ciências de forma segmentada até certo tempo. "Em um mundo onde as interconexões são exigidas, continuar a explorar os conhecimentos de forma separada é não preparar o aluno para atuar nesse mundo. Essa integração dos saberes é vantajosa, necessária e saudável", defende.
Ele lembra que há alguns séculos as grandes descobertas e invenções eram de autoria de um só homem, como Darwin (Evolução por seleção natural), Mendel (Hereditariedade), Newton (Gravitação Universal) ou Einstein (Teoria da Relatividade). Hoje, porém, uma equipe multidisciplinar se une para novas descobertas. Menezes cita o caso do Projeto Genoma, resultado de estudos entre médicos, biólogos, físicos e matemáticos.
O Enem, portanto, não privilegia o aluno que automatiza o saber, que decora fórmulas, nomes e datas, mas aquele que possui um olhar crítico diante da vida. A professora de português Carla Carmelita também aprova o modelo de avaliação do exame. "O aluno passa a fazer várias leituras do mundo. Ele vai conseguir conciliar as diversas áreas do conhecimento com suas experiências cotidianas", sustenta, acrescentando que "o aluno tem que ser um cosmopolita, pois nada está estanque, tudo está integrado".
A professora alerta para uma possível "superficialidade do conhecimento" por parte dos feras, uma vez que ele acaba estudando um pouco de tudo, quando na verdade ele precisa aprofundar em todas as disciplinas. "Para a prova do Enem, o candidato precisa estudar as matérias e fazer as relações, aprofundando o conhecimento", conclui.
Fábio Menezes atenta para outro possível perigo da abordagem transdisciplinar: quando o aluno é avaliado dessa maneira, mas aprende e estuda de forma tradicional. "Ele precisa fazer essas articulações entre as disciplinas e perceber a aplicabilidade do assunto à sua vida prática. Para isso, o professor é peça fundamental".

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