Enem: treino é a palavra de ordem para escolas e alunos na reta final
Nos dias que antecedem as provas, colégios apostam em aulões e simulados. Quem venceu a etapa apoia ideia e conta como ter sucesso no exame
A menos de um mês para a aplicação das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) , os participantes devem treinar as questões. Essa é recomendação de professores e ex-alunos do ensino médio, que já passaram pela experiência e tiveram sucesso na prova. Com tão pouco tempo até o dia da avaliação, eles acreditam que os exercícios são a preparação mais eficaz.
O conteúdo, eles afirmam, já foi trabalhado ao longo do ano. Agora, é preciso se adaptar ao estilo de questões das provas, medir o tempo que se leva para responder cada uma delas e se sintonizar nos assuntos mais comentados do momento, que podem aparecer nas avaliações. “Acho que os alunos devem estudar, claro, mas treinar o tempo de realização das provas é essencial. Ele pode eliminar um bom candidato”, afirma a estudante Marcela Silveira Rocha.
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A carioca de 25 anos fez o primeiro Enem no ano passado. Não satisfeita com o curso de Desenho Industrial que cursava, decidiu tentar uma vaga em Medicina. Marcela diz que a prova das disciplinas de humanas (geografia, história, línguas) foi bem feita, mas achou cansativa e repetitiva a avaliação de matemática, por exemplo. Para ela, controlar o tempo de resolução das questões e de escrita da redação é crucial.
“Refazer provas antigas marcando o tempo, como se fosse o dia do Enem, é muito bom para tentar dinamizar a resolução dos itens”, avalia. Marcela, que tirou nota 1000 na redação, conta que escrevia um texto a cada 15 dias, para se exercitar.
André William do Nascimento Sousa, 18 anos, também apostou nessa estratégia para se preparar para as provas do Enem em 2011. Imprimiu avaliações antigas, resolveu algumas, tirou dúvidas com professores. Para o estudante do curso de Gastronomia da Universidade Católica de Brasília (UCB), seguir as orientações dos professores, fazer todos os exercícios recomendados e ler muito fizeram a diferença para que ele tivesse nota suficiente para garantir uma bolsa do Programa Universidade para Todos (Prouni) , que seleciona beneficiários a partir das notas do Enem.
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Tarcila Bastos Ribeiro, 18 anos, concorda que os simulados são grandes aliados de quem está em preparação. E, para ela, não existe barreira para quem quer se preparar. Estudante da rede pública da capital, dona de uma história de vida difícil (em que problemas de saúde e falta de condições financeiras para investir em cursinhos ou materiais extras foram rotina), ela lembra que a internet oferece exercícios, provas antigas e até vídeo-aulas para quem tem dúvidas.
“O diferencial é o interesse da pessoa. Sempre tive em mente que o conhecimento não se compra, por isso, não é apenas privilégio burguês. Todo mundo pode conseguir alcançar um sonho, um objetivo. Eu procurava informações na internet, em revistas, pegava material emprestado para estudar, assistia a vídeo-aulas, pedia ajuda aos professores”, afirma. Tarcila foi aprovada, no início deste ano, para o curso de Letras na Universidade Federal do Ceará.
Na véspera de iniciar as aulas, Tarcila titubeou sobre a escolha profissional. Durante uma de suas maiores internações, em 2010, apaixonou-se pela literatura e acreditou que essa era sua vocação. Porém, depois de se matricular na UFC, percebeu que queria trabalhar na área de saúde, por causa dos cuidados que recebeu a vida toda. Com uma doença rara no esôfago, internações e cirurgias se tornaram rotinas para ela.
Tarcila foi aprovada na seleção do curso de Nutrição do Centro Universitário Estácio do Ceará, pelo Prouni. A jovem vive em Fortaleza com a mãe, que trabalha como doméstica e ganha pouco menos de um salário mínimo. Decidiu “contaminar” outros estudantes com seu otimismo, sua força de vontade e sua história. Ela e mais dois colegas que também conseguiram se sair bem no Enem voltaram à antiga escola para dar palestras aos alunos.
Esforço coletivo
Em Brasília, escolas públicas apostam em aulões e simulados do Enem para garantir o bom desempenho dos alunos. Na capital, a rede pública enfrentou uma greve de 52 dias no primeiro semestre, o que dificulta o cumprimento do currículo em tempo hábil para o Enem.
Atrair os alunos e fazer revisões para os processos seletivos é o objetivo de professores e coordenadores com esses aulões. Docentes de disciplinas diferentes se revezam em frente ao quadro, mas dão aulas integradas. Usam fantasias, misturam teatro com as explicações dos conteúdos. Tudo para estimular os jovens a participar dos aulões.
“No sábado, temos mais tempo de desenvolver um trabalho dinâmico, com horário mais extenso. E os alunos têm vindo e participado durante as cinco horas de aula”, conta Mary Ferraz, professora de Filosofia do Centro de Ensino Médio Setor Leste. Os aulões, segundo ela, integram os conteúdos cobrados no Programa de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de Brasília (UnB), que tem a mesma linha de interdisciplinaridade do Enem.
O compromisso dos professores é sentido pelos alunos. Carla Camila Fernandes, 16, Erika Sousa, 17, e Lara Cleyslla Cardoso, 17, estudantes do 3º ano, não perdem um encontro. “Os projetos da escola nos ajudam muito, porque saem da sala de aula. Tudo está corrido, mas a matéria não está sendo deixada de lado. O empenho e a paixão dos professores nos estimulam”, conta Lara.
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No Centro Educacional 7 de Ceilândia, no Distrito Federal, o desafio dos professores com os aulões é ainda maior. Eles decidiram iniciar o projeto de preparação para o Enem – que inclui desenvolver todas as provas aplicadas na escola no mesmo modelo de questões do exame – no turno da noite. Os estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA), o antigo supletivo, foram os pioneiros no projeto, que dura mais de três anos.
À noite, os professores têm de fazer os estudantes esquecerem do cansaço, das dificuldades que tiveram para aprender no passado e roubar a cena. Inclusive no sábado à noite, quando a reposição é feita. “A metodologia precisa ser diferente. Mas encaro o desafio da mesma forma que seria pela manhã. Eles percebem a necessidade de estudar, só precisam de um empurrão”, diz Anderson Alves, professor de Química.
Jailson Coimbra de Souza, de 24 anos, conta que é preciso muita força de vontade, mas o sonho de estudar Direito o faz tentar o Enem. Por tudo o que a escola lhe oferece, ele se sente preparado para fazer a prova. O pedreiro Antônio Alexandre Oliveira, de 25 anos, quer estudar Arquitetura ou Engenharia. Para ele, o conteúdo é extenso, mas acredita que “a prática desenvolvida no colégio” vai ajudá-lo. “Assistir aos aulões me fez aprender coisas que eu nem sonhava”, sentencia Rita Carvalho dos Santos, 48 anos.
IG
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