quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013


Prioridade deveria ser o investimento na qualidade dos cursos existentes

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

Uma dúvida precede a decisão do governo em mudar os critérios para abertura de vagas em medicina. Afinal, o país precisa de mais médicos?
As entidades de medicina dizem que não, que o problema não é a falta de médico, mas sim a má distribuição pelo país. Cerca de 70% deles estão no Sul e no Sudeste.
Quase 17 mil alunos se formam em medicina todos os anos em 187 escolas médicas --há 20 anos, eram 83.
O Brasil tem 370 mil médicos, quase dois por mil habitantes. A OMS (Organização Mundial da Saúde) preconiza um para mil habitantes.
O governo discorda das entidades e mira em países como Portugal e Argentina, que têm mais de três médicos por mil habitantes.
André Lima/Unifor
Aulas no laboratório de medicina da Universidade de Fortaleza
Aulas no laboratório de medicina da Universidade de Fortaleza
Em 2012, a presidente Dilma Rousseff lançou o Plano Nacional de Educação Médica, que pretende aumentar em 4.500 o número de médicos formados por ano, o que faria com que o país tivesse, em 2020, 2,5 médicos por mil habitantes.
Ainda que seja salutar se antecipar a demandas, é ainda mais prioritário que o país investia nos cursos existentes.
Problemas acompanharam a proliferação de faculdades. Faltam laboratórios, bibliotecas e hospital para o aprendizado. O resultado pode ser visto no último exame do Cremesp (Conselho Regional de Medicina): 54,5% dos quase 2.500 formandos de São Paulo não acertaram 60% dos testes.
Se a meta é melhorar a qualidade, não é hora de o governo adotar um exame nacional para graduandos, a exemplo do que fazem EUA e Canadá?
Outra proposta do governo é interiorizar os cursos de medicina para fixar os médicos nos rincões do país. Mas quem garante que, depois de formado, ele continuará na região?
A grande maioria dos formandos não fica no interior pois não há incentivos. Não seria mais lógico primeiro criar uma política pública efetiva de atração e manutenção desses profissionais por lá para depois pensar em expansão?

FOLHA

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