“Só fiquei pensando na minha mãe. É uma vitória para ela, que sempre me colocou para frente”. Esse foi o primeiro pensamento de Maria Clara Araújo, 18 anos, ao olhar seu nome como aprovada para o curso de pedagogia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ela é uma das 95 transexuais que se inscreveram no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2014. Nesta segunda-feira (26), seu nome ocupou um lugar entre tantos outros aprovados na primeira lista de classificados do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Agora, a jovem promete ocupar a universidade com a bandeira da minoria que representa, ainda tão distante do mundo acadêmico.
A aprovação foi confirmada às 11h, longe da família, no Rio de Janeiro. Como o Portal NE10 contou na matéria sobre a estudante publicada em setembro, Maria Clara, apesar da pouca idade, já é uma militante conhecida quando o assunto é a luta pelos direitos de transexuais. Na agenda da viagem para o Sudeste está a palestra que ela participa nesta terça-feira (27), no Colégio Pedro Segundo, na Zona Oeste da cidade, sobre suas vivências e os desafios que o grupo o qual representa precisa encarar.
Veja abaixo a entrevista feita para o NE10 em setembro:
Chegar à universidade é, sem dúvida, um dos maiores entre esses desafios. Não só para ela, mas para toda a família. “Minha mãe fez muito esforço para eu estudar, pagando passagem para escola longe de casa. Pensei muito nela. O resultado é a prova de que todo o esforço valeu a pena“, comemora. Apontada como sua grande incentivadora, a mãe de Maria Clara, a dona de casa Vandinete Maria Araújo, 59, nunca teve a oportunidade de fazer uma graduação, assim como o seu marido, Airton José dos Passos, 55.
Mesmo se dedicando bastante aos estudos ao longo do ano, o desempenho era uma grande dúvida. “No dia da prova da redação passei mal. Sou muito ansiosa, fiquei nervosa pensando em como todo mundo gosta da minha escrita. Acabei não fazendo o texto como eu poderia”, avalia. Mas como qualquer estudante, depois de passada a angústia, não importava muito quanto seria a nota, contanto que o resultado fosse positivo. E foi.
Mas Maria Clara não se contenta só em ocupar um lugar na universidade. Entre as opções de curso que considerava, queria um com o qual pudesse levar sua história e ajudar outras pessoas trans e, consequentemente, quebrar as barreiras entre a sociedade e a minoria que representa. Quando foi entrevistada pelo NE10 no ano passado, estava decidida a tentar uma vaga em serviço social. Durante as inscrições no Sisu, porém,acabou escolhendo pedagogia.
Maria Clara já tem uma noção dos novos rumos que pretende seguir: mestrado, doutorado, tornar-se professora universitária. Mas, por se tratar de um ambiente tão pouco ocupado pelos transexuais, a universidade abriu portas para caminhos que ela mesma terá que descobrir aonde levam. “Mas eu já cheguei tão longe que… meu Deus!”, diz desfazendo seu discurso eloquente – como costuma ser – em meio à emoção de uma aprovação que simboliza muito mais que a vitória de uma vestibulanda.
NE UOL
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