quarta-feira, 14 de março de 2012


Viagra para grávidas

Substância usada contra impotência sexual masculina pode ser útil também para reduzir hipertensão em gestantes. Estudo feito no Brasil mostra que enzima responsável por disfunção erétil está relacionada também à pré-eclâmpsia.
Por: Célio Yano
Publicado em 14/03/2012 | Atualizado em 14/03/2012
Viagra para grávidas
Cerca de 5% das grávidas apresentam quadro de pré-eclâmpsia durante a gestação. (foto: SXC.hu/ BirkFoto)
A doença hipertensiva gestacional é a principal causa de morte entre grávidas no Brasil e no mundo. Em casos mais graves, quando se manifesta com a perda de proteínas na urina (proteinúria), além da hipertensão, configura o quadro de pré-eclâmpsia. O único tratamento definitivo para essa complicação, que acomete 5% das gestantes, é a interrupção da gravidez.
Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) indica que poderia haver uma solução menos drástica para o problema.
A pesquisa sugere que mulheres com pré-eclâmpsia poderiam ter o quadro revertido com o uso de citrato de sildenafila, substância mais conhecida pelo nome comercial de Viagra. Isso mesmo, o fármaco utilizado no tratamento da disfunção erétil masculina.
A relação entre uma coisa e outra não é difícil de entender. No homem, é a atividade de uma enzima, a fosfodiesterase, que, por meio da contração de vasos sanguíneos, impede que o pênis fique ereto o tempo todo.
A pesquisa sugere que mulheres com pré-eclâmpsia poderiam ter o quadro revertido com o uso do Viagra
Quando o organismo não consegue controlar a atividade dessa enzima e ela age continuamente, o homem fica impotente. Aí entra o papel da sildenafila, que inibe a ação da fosfodiesterase e permite, assim, a dilatação dos vasos sanguíneos do órgão genital.
“Descobrimos que em mulheres com pré-eclâmpsia a atividade da fosfodiesterase é maior que nas demais grávidas”, explica a bióloga Bartira Costa, autora do trabalho. “Isso pode estar provocando a contração vascular que leva à hipertensão”.
“Por inibir a ação da fosfodiesterase, o Viagra poderia servir para o tratamento também da pré-eclâmpsia”, arrisca a pesquisadora, que integra o Laboratório de Nefrologia da PUC-RS.
Viagra
Forma comercial do citrato de sildenafila, mais conhecido pela marca Viagra. Medicamento pode vir a servir no tratamento de síndrome que atinge gestantes. (foto: SElefant – CC BY-SA 3.0)

Testes em andamento

O resultado inédito da pesquisa dos brasileiros, publicado em 2006, levou cientistas de vários países a estudar o uso da sildenafila na pré-eclâmpsia.
Vasos retirados do útero de mulheres com a síndrome e com restrição de crescimento fetal apresentaram maior capacidade de relaxamento após imersos em solução com o inibidor de fosfodiesterase.
Em ratos, a ação da substância resultou em redução da proteinúria e da pressão arterial da fêmea, além de ganho de peso e diminuição da mortalidade dos fetos.
Ensaios clínicos com o medicamento, que estão sendo conduzidos por alguns grupos de pesquisa em países como Portugal e Itália, dirão se a pílula azul poderá ter um novo uso.

Célio YanoCiência Hoje On-line/ PR

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