quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

“É como se a vida tivesse me preparado para isso”, diz estudante aprovado em medicina na UFPB

Não é difícil de duvidar que, com tantas histórias de superação, Eric Ferreira – aprovado em sexto lugar no curso de medicina da Universidade Federal da Praíba (UFPB) – tenha apenas 22 anos. Partindo para a segunda graduação, o jovem conseguiu ser aprovado enquanto conclui o curso de jornalismo, faz estágio e tem aulas no Conservatório Pernambucano de Música. O que já é muito fica diminuído quando ele revela que sua primeira aprovação em um vestibular aconteceu aos 16 anos, enquanto ele passava por um tratamento contra o linfoma de hodkin, um câncer.

“Eu tinha 15 anos quando comecei a ter uma tosse muito forte e passei quase cinco meses indo para médicos, que na maioria das vezes achavam que era virose. Até que uma pneumologista percebeu alguns caroços no meu pescoço e desconfiou”, lembra. O diagnóstico veio depois de uma internação acompanhada de baterias de exames. Passado o impacto que uma notícia dessas causa em qualquer pessoa, Eric diz que sua principal preocupação passou a ser a escola: não queria perder o ano. Por conta da baixa imunidade, pessoas que passam pelo tratamento contra o câncer devem evitar locais com grande circulação de pessoas, onde as chances de contrair infecções são maiores.
ERIC
Depois de se tratar de um câncer, estudante que conclui o curso de jornalismo foi aprovado em medicina na UFPB
Depois de receber liberação para continuar frequentando as aulas, o então adolescente que sempre fora bom aluno estudou como nunca. “Não podia ir a festas, cinema, só ficava em casa. Então mantive minha cabeça ocupada nos estudos e tentava seguir a minha vida, indo ao hospital a cada 15 dias”, explica. Quando já tinha feito quase todas as 12 sessões de quimioterapia e 17 de radioterapia do tratamento, veio a surpresa: ele foi aprovado em jornalismo na Universidade Federal de Pernambuco enquanto ainda cursava o segundo ano do ensino médio.
Em 2009, a graduação era a quinta mais concorrida da universidade, com 16,2 candidatos para cada vaga. Mas Eric preferiu não cursar. “Eu ainda não tinha terminado o tratamento e me achava muito imaturo. O processo para começar a faculdade sem ter terminado o ensino médio também é muito complicado, então resolvi fazer o terceiro ano”, justifica. No ano seguinte, foi novamente aprovado.
Começar a estudar jornalismo foi a realização do sonho que alimentava desde os seus dez anos, quando criou um jornal para a turma do colégio. “Quando eu entrei, tudo o que eu queria na vida era ser jornalista. Eu era uma criança quando entrei na faculdade, amadureci muito. O curso me instrumentalizou para conseguir muita coisa”, avalia garantindo que não se arrepende da escolha feita na época.

Em 2012, porém, a história começou a mudar quando ele fez intercâmbio para Nova York. “Passei meses sozinho, é um momento que a gente pode se conhecer melhor. Entendi que para eu continuar na carreira não podia ter qualquer dúvida”, lembra. Ao voltar, porém, decidiu que terminaria a graduação a todo custo.
Ao longo de 2014, sua rotina foi regida pela organização para dar conta de tanta coisa: cursinho três vezes por semana, estágio, dedicação ao Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), conservatório de música e reuniões com o grupo de teatro. Impossível dar conta? Ele acha que não. “Para ter sucesso em qualquer área da nossa vida é preciso ter foco. Não importa se você só tem uma hora para estudar o assunto, contanto que você realmente esteja voltado para aquilo”, garante. O resultado foi 960 pontos na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o sexto lugar no curso que concorria. Ele ainda espera ser remanejado na segunda lista de chamada da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde ocupa a vaga de número 114 de medicina.
A decisão pelo curso de medicina foi, segundo ele, natural. “Quando eu passei por tudo, pensava que não tinha sido por um propósito. É como se a vida toda tivesse me preparado para isso. Quero usar a minha experiência para ajudar as pessoas. Percebi que através da medicina poderia fazer isso de forma mais fácil”, conclui.
NE UOL

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