sexta-feira, 23 de novembro de 2012


Escolas campeãs do Enem 2011 miram os vestibulares

Quase todas as instituições selecionam alunos, se dedicam à preparação para os exames e mantêm poucas e pequenas turmas de ensino médio

Nathalia Goulart
Alunos aguardam a abertura dos portões para o primeiro dia de prova do ENEM, em São Paulo - 22/10/2011
Alunos aguardam a abertura dos portões para o primeiro dia de prova do ENEM, em São Paulo - 22/10/2011 - Léo Pinheiro/ Fotoarena
Entre as primeiras colocadas do ranking de escolas do Enem 2011, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) nesta quinta-feira, algumas características chamam a atenção. Todas as instituições realizam vestibulinhos para selecionar alunos e quase todas concentram-se declaradamente à preparação de estudantes para os vestibulares e, portanto, para o Enem – o que lhes garante visibilidade em caso de sucesso. Além disso, as unidades mantêm poucas turmas de 3º ano do ensino médio, aquelas que reúnem os alunos que realizam a avaliação federal.
O Objetivo Integrado, de São Paulo, que ocupa o primeiro lugar no ranking, acumula todas as características descritas acima. A escola, que faz parte do sistema de ensino Objetivo, de João Carlos Di Gênio, foi criada em 2009 (justamente quando o Enem passou a selecionar estudantes para universidades federais) para reunir os melhores alunos da rede. Identificados os talentos, os jovens passam por uma prova e são convidados a integrar a seleta equipe de pouco mais de 40 estudantes que disputarão olimpíadas do conhecimento e participar dos principais exames de vestibular do Brasil.
A prática é replicada pelo Colégio Elite Vale do Aço, segundo colocado. Localizado em Ipatinga, distante cerca de 200 quilômetros de Belo Horizonte (MG), a escola nasceu em 2009 como pré-vestibular. Em 2011, inaugurou sua primeira turma de 3º do ensino médio, com 27 alunos. Os estudantes que prestaram o Enem 2011, portanto, foram formados por outras instituições de ensino e chegaram ao Vale do Aço às vésperas do vestibular. Átila Silva Zaroni, diretor pedagógico e um dos fundadores do colégio, deixa claro os objetivos da instituição: "Nascemos para liderar rankings de aprovação nos vestibulares." Neste ano, a escola passou a oferecer uma turma para cada uma das três séries do ensino médio, totalizando pouco menos de 100 alunos. Para ingressar, é preciso passar no vestibulinho. Para 2013, a concorrência prevista é de três candidatos por vaga. Com a fama trazida pelo Enem 2011, no entanto, o número pode crescer.
O Colégio Bernoulli, de Belo Horizonte, explicita inclusive seu método. "Nosso material didático foi adaptado para atender às exigências do Enem", diz Rommel Fernandes, diretor pedagógico da escola, terceira da lista do MEC. Lá, são aplicados no mínimo oito simulados que seguem o estilo do Enem ao longo do ano. Para ingressar na instituição, é preciso passar por uma prova de seleção e acertar no mínimo 60% das questões. "Sem esse nível de conhecimento, o estudante não tem condições de acompanhar o ritmo da escola", diz Rommel. Em média, 70% dos que fazem o exame de ingresso ficam de fora do colégio mineiro.
Única escola pública a figurar entre as dez melhores do Brasil no Enem 2011, o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, também seleciona estudantes para as 150 vagas oferecidas por ano. O mesmo ocorre nas nove demais públicas que figuram entre as cem primeiras do ranking: Colégio de Aplicação da UFPE (PE), IFES Campus Vitória (ES), Colégio Militar de Belo Horizonte (MG), Instituto de Aplicação da Uerj (RJ), Colégio Militar de Porto Alegre (RS), Escola Técnica Estadual de São Paulo (SP), Colégio Técnico da UFMG (MG), Colégio Pedro II (RJ) e Universidade Tecnológica Federal do Paraná (PR). Elas compartilham ainda a situação particular que as afasta da esmagadora maioria das escolas brasileiras: são consideradas escolas-modelo. São colégios técnicos ou unidades mantidas por universidades federais ou ainda pelo Exército.
Entre as dez primeiras colocadas no Enem 2011, apenas duas instituições se afastam do quadro descrito acima: não foram criadas para despontar nos vestibulares nem são mantidas por universidades ou Exército, tampouco são técnicas. Uma delas é o Instituto Dom Barreto, de Teresina (PI), que no Enem 2010 figurou na 2ª posição e, em 2011, aparece em 6º lugar. "Quase 90% dos nossos alunos do ensino médio estão conosco desde os primeiros anos do ensino fundamental. É um trabalho que inicia na educação infantil e culmina no ciclo médio", diz a diretora geral, Maria Stella Rangel. O Instituo possui cerca de 100 alunos no último ano ensino médio, o triplo do mantido pelo Elite Vale do Aço e quase o drobro do Objetivo Integrado. "Nos preocupamos, sim, com a aprovação de nossos alunos. Mas esse não é nosso objetivo de vida", diz Maria Stella.
Já o Santo Antônio, de Belo Horizonte, é uma instituição franciscana de 103 anos de vida. Entre as primeiras colocadas no ranking, é a que mais levou alunos ao Enem 2011: 239 dos 284 concluintes do ensino médio da escolas estavam presentes na avaliação federal em 2011. Entre 2010 e 2011, foram três posições perdidas, passando de 6º para 9º lugar. “A linha pedagógica do colégio contempla muito mais do que apostilas para o vestibular”, diz o diretor Frei Jacir de Freitas Faria. “A nossa grade é bastante rígida desde os primeiros anos, mas não fazemos isso apenas pensando no ensino médio”, acrescenta. Assim mesmo, o Santo Antônio não deixa de lançar mão dos vestibulinhos para a seleção de alunos, assim como o Dom Barreto.
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