Em 1934, USP nasceu para formar a elite intelectual brasileira
FELIPE ODA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
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A USP nasceu em 1934 com o objetivo principal de educar filhos de políticos, advogados, engenheiros, médicos e fazendeiros de café -a elite paulista. Um decreto reuniu sob um mesmo nome a Faculdade de Direito, de 1827, a Escola Politécnica, de 1893, e a Faculdade de Medicina, de 1912.
Segundo pesquisadores, mais de 90% dos primeiros alunos tinham concluído o ensino básico na rede pública. "Colégio particular era para os menos inteligentes", explica Marilda Nagamini, pesquisadora do Centro de História da Ciência da USP e coautora do livro "Fuvest 30 anos", de 2007.
Se em 79 anos esse índice caiu de mais de 90% para menos de 30% é porque a USP se tornou, ao longo das décadas, um reflexo do próprio sistema educacional brasileiro.
Os especialistas não sabem precisar quando o ensino público passou a perder do ensino particular -nem quando houve o aumento de alunos da USP egressos de particulares. Mas, para Shozo Motoyama, doutor em história social pela USP e autor de "USP 70 anos" (2006), os anos sob a ditadura (1964-1985) foram determinantes.
Com o intuito de fazer propaganda do progresso nacional, o regime militar investiu para ampliar o acesso ao ensino superior. Ao mesmo tempo, explica José Sérgio de Carvalho, professor da Faculdade de Educação da USP, as bases da educação ficaram de lado.
O mercado viu, então, oportunidades na criação de escolas pagas. "As particulares eram, na maioria, confessionais [ligados a igrejas]. Após a década de 1960, a educação básica virou um negócio", diz Maria do Rosário Mortatti, professora da Unesp e pesquisadora sobre as universidades paulistas. "Com a escola pública oferecendo formação ruim, famílias com condições financeiras buscaram uma alternativa."
O perfil dos uspianos sofreu a maior mudança de sua história --em 2012, vale lembrar, 28% dos matriculados concluíram a educação básica em colégios públicos.
VESTIBULAR
Mesmo com mais repasses do governo, que garantiam mais vagas, a USP não conseguia dar conta da demanda. Veio, então, a necessidade de criar um mecanismo que restringisse o acesso: o vestibular.
Considerado o embrião da Fuvest, o Cescem (Centro de Seleção de Candidatos às Escolas Médicas) passou a recrutar alunos em 1964. Outros dois órgãos de seleção de universitários surgiram em 1967 e 1969.
Os três foram responsáveis pelo processo seletivo da USP até dezembro de 1976, data da primeira prova da Fuvest. A partir daí, a fundação assumiu o vestibular. No último exame registrou mais de 159 mil inscritos para menos de 11 mil vagas.
A alta concorrência na Fuvest e a baixa qualidade da educação pública criaram um abismo entre a universidade e os alunos da rede pública.
"A maioria dos alunos da rede pública ou não coloca a USP no horizonte ou sabe que, pela trajetória, será quase impossível", resume Wilson Mesquita, 36, doutor em sociologia pela USP e autor do livro "USP para todos? Estudante com desvantagens socioeconômicas e educacionais e fruição da universidade pública", de 2009.
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