domingo, 2 de junho de 2013

O que o carbono disse quando foi preso?

São Pauling, Ponte de Hidrogênio, noite de 15 de novembro. Um elemento está
prestes a ter uma reação precipitada.
Policial: Atenção, Metil, você está cercado! Seus dias de radical livre acabaram!
Fótons são tiradas pela imprensa.
Repórter: Estamos aqui onde um radical livre ameaça decair da Ponte de
Hidrogênio. De acordo com as autoridades, Metil matou um cara!
Policial: Metil, você é culpado por causar envelhecimento precoce, enfisema e
até câncer! Entregue-se, você precisa ir para a cadeia!
Metil: Nunca! Sou um radical livre! E se alguém se aproximar, vou reagir!
Policial: Cuidado, rapazes, ele tem o número ímpar de elétrons.
Psicóloga: Ele é instável assim porque teve uma infância isenta de antioxidantes.
Policial, deixe que eu vá conversar com ele.
Policial: Ok, mas tome cuidado! Se chegar muito perto, ele pode te roubar
elétrons.
Psicóloga: Não se preocupe, farei uma ligação.
Psicóloga: Metil, desça daí! Sempre há uma solução!
Metil: Não sou mais parte da solução, em breve serei um precipitado.
Psicóloga: Vim para neutralizar essa situação. Conte-me o que houve.
Metil: Bem... Tudo começou há um tempo atrás, na ilha do Mol.
Encontrei amina perfeita na balada e fui xavecá-la. Afinal, precipitado que sou, decantada eu entendo.
“Aê, amina! Se beleza desse cadeia, você seria uma aromática, sua cheirosa!” Ela riu potássios! “KKKK”…
Ela então me devolveu: “Silicato na água, reage?” Eu ri hélios: “HeHeHeHe”.
Senti que estava rolando uma química entre nós. Tínhamos uma ligação muito
forte, sabe? Seu nome era Kátion, era uma garota muito positiva.
Vivemos um lance muito orgânico, tínhamos mais afinidade do que os halogênios!
Reagimos muito juntos.
Mas com o tempo a relação foi ficando saturada. Eu dizia: “O amor é fogo que
arde sem se ver”. Ela respondia: “O nome disso é metanol!”
“Metanol?”, disse eu. Foi então que descobri que Kátion era dependente química.
Fui trocado por um álcool!
Amina pisou no meu S2 com sua butinona. Minha vida amorosa seguia o princípio
da incerteza. Era como viver uma meia-vida!
Fiquei tão negativo que nem as piadas do Ácido Crômico me alegravam mais.
Sentia-me mais solitário do que o Hidrogênio, que nem família tem!
Foram dias de muita eletronegatividade. Não conseguia arrumar energia de
ativação nem para levantar da cama!
Minha instabilidade gerou um câncer e causou uma morte. Por esse crime, passei
a ser perseguido como se fosse o Amoníaco do Parque.
Fui preso e o delegado me disse que tinha direito a uma ligação. Quis ligar para o meu avogrado, mas o número era muito grande, nunca decorei... Eram muitos os elementos estranhos naquela cadeia isomérica. Todos cismados e transtornados comigo.
Minha cela estava cheia de elementos trans. Fiquei me perguntando se aquela seria uma cadeia homocíclica… Recebi vários alcenos e, ao ouvir alcino de recolher, pensei: Vou entrar pelo alcano! Devem ter me confundido com o Grafite, pois estavam botando pressão para me fazer diamante.
Já na cela ao lado, ficavam o Mercúrio, o Césio 137 e o Ácido Sulfúrico. Denominavam-se “os intocáveis”. Muito perigosos.
Convivíamos com maníacos nunca encontrados livres na natureza, como o Bário.
Psicóloga: Que Bário?!
Metil: Aquele dos crimes atrás do armário.
Alguns elementos acabavam pirano e indo parar na ala psiquiátrica. Como o
Detergente, aquele bipolar. Que rapaz mais tensoativo!
Era uma cadeia fechada, de segurança máxima. Os muros eram cheios de spin e cerca elétron.
Às vezes, no silício da noite, lia na kama Robson Crusoé francês para tentar me manter mais eletropositivo.
Meu amigo Frâncio era o mais bem informado, porque vivia do lado do rádio. “Ei, Metil, sabia que Bela Magrela casou com o sr. Barão Ratão?” 
De vez em quando, ligávamos o rádio para ouvir Carbono Vox ou Kcl: “Quem sabe ainda sou uma molequinha”.
Sentia saudade de tudo! Do bilhar com meu amigo Dalton. Do pudim de passas da padaria do Thompson. Até das visitas ao Planetário Rutherford.
Então resolvi que iria fugir!
Psicóloga: Como você fez? Pagou propino?
Metil: Não, quebrei aquela cadeia!
Em uma rebelião, a chapa calefou! Eu e meu inflamável amigo C4H10 butano fogo em tudo e fugimos. 
Mas não sou nobre como aqueles gases. Vivo sem um níquel! Até meu ex-camarada Urânio, que enriqueceu na Coreia, virou as costas para mim. 
Como viu, minha vida sempre foi um cobre. Eu só me ferro! 
Psicóloga: Calma, Metil, metalize energias positivas.
Metil: Chega! Estou supersaturado desta vida.
Psicóloga: Ora, vamos! Seja covalente e enfren... NÃÃÃÃÃOOO!!!
IIIIIIIUUUUUUUPAC!!
Repórter: Que barulho foi esse?
Psicóloga: Ele pulou!
Policial: Esse não reage mais… 
Seis padres carbonos e seis freiras hidrogênios se aproximam.
Repórter: O que vocês estão fazendo?
Padres: Benzeno.
Padres: Vamos usar H2Oly.
Repórter: O que é isso?
Freiras: Água benta.
Psicóloga: Ei, esperem!
Vejam, há um bilhete no bolso dele!!! “Kátion, eu te A(6x10²³), meu sulfeto (S2-) é
seu. Sulfato de berilo (BeSO4), Metil.” Qui-mico!
FIM

By Camila Cavalcante

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