sábado, 10 de novembro de 2012


Aluno de medicina que boicotar exame terá 'ficha suja', diz Cremesp

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

Estudantes de medicina que boicotarem o exame do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) poderão ficar com a "ficha suja" no conselho.

A prova, que passou a ser obrigatória para os alunos do sexto ano, é pioneira no país e acontece no domingo em São Paulo. Sem o certificado de participação, o estudante não obtém o registro profissional no conselho paulista.
Lideranças estudantis de três universidades (Unicamp, Unesp e Faculdade de Medicina de Marília) estão recomendando que os alunos boicotem o exame.
A orientação é para que marquem, em todas as questões, a alternativa "B", de boicote.
Segundo o Cremesp, o "ato de rebeldia" ficará arquivado no conselho, na pasta do futuro médico.
"Esses colegas estão entrando na profissão agora. Será que vão querer começar já cometendo uma infração ética?", questiona o conselheiro Bráulio Luna Filho e um dos coordenadores do exame, referindo-se à resolução que tornou obrigatório o exame.
Ele diz que a adesão ao boicote poderá ter um "impacto negativo" na carreira do futuro médico. "Não pretendemos fazer nenhum uso disso agora. Mas [a prova] vai ficar guardada, se precisar."
Criado em 2005, o exame era optativo até o ano passado. Nos últimos anos, foi sendo esvaziado. Em 2011, apenas 418 alunos (contra 998 de 2005) se inscreveram. A taxa de reprovação foi de 46% --índice médio dos últimos sete anos.
"Temos absoluta convicção de que o recém-formado que não consegue acertar 60% da prova não tem condições de sair atendendo as pessoas sem colocar em risco a saúde delas", afirma Renato Azevedo Júnior, presidente do Cremesp.
O teste não exige nota mínima para aprovação. O aluno só precisa comparecer no dia da prova e responder a todas as questões. Por força de lei, o Cremesp não pode condicionar o registro à aprovação em um exame. Isso exigiria uma lei federal.
Editoria de arte/Folhapress
NOVO MODELO
A Abem (Associação Brasileira de Ensino Médico) e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, já se posicionaram contrários ao exame do Cremesp. Eles defendem uma avaliação seriada do aluno: no 2º, 4º e 6º anos do curso.
À Folha Padilha disse que os ministérios da Saúde e da Educação estão discutindo um novo modelo de avaliação permanente dos estudantes e das escolas médicas.
"É preciso avaliar aluno e faculdade. Se não houver evolução, o aluno não pode ser o único penalizado. A faculdade deverá ser proibida de ofertar novo vestibular."
Azevedo Júnior, do Cremesp, afirma que o conselho é favorável que as escolas de medicina avaliem seus alunos permanentemente, mas que haja uma avaliação externa no final do curso, nos moldes das que existem nos EUA e na Inglaterra.
"As escolas são ineficientes nas suas avaliações. O ministério e a Abem defendem o exame progressivo, mas não o fazem", diz Luna Filho.
A despeito da polêmica, o exame tem recebido apoio de médicos renomados, como o cardiologista Adib Jatene e o oncologista Drauzio Varella, que também defendem avaliações externas periódicas.
Para Jatene, o teste não deve ser encarado como punição, "mas como uma das formas de obrigar a escola a ensinar, e o aluno a aprender".
Drauzio Varella diz que o exame do Cremesp é o primeiro passo para aprimorar a formação dos médicos. Ele apoia avaliações periódicas também para os médicos já formados. "Médicos desatua-lizados colocam em perigo a integridade dos pacientes."

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