sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013


Editorial: Os males da medicina


Não passa de um agrado à classe médica o anúncio do Ministério da Educação de que sóautorizará novos cursos de medicina em lugares com carência de profissionais.
Uma medida como essa talvez fosse eficaz em países que imponham restrições à movimentação de seus cidadãos. No Brasil, onde todos são livres para estudar, morar e trabalhar no local que preferirem, é improvável que funcione.
Escolas de medicina estão entre as mais concorridas do país. A tendência é o aluno se graduar onde conseguir vaga e depois mudar-se para a praça com melhores salários e condições de trabalho, na sua avaliação. Em geral, os grandes centros do Sudeste e do Sul.
Para romper o ciclo da concentração dos médicos, é preciso não só oferecer remuneração competitiva nas zonas afastadas como também garantir condições mínimas para se exercer o ofício.
Um bom salário pode atrair o profissional para a Amazônia, mas, se lá não houver um hospital equipado e outros médicos e enfermeiros para repartir funções e responsabilidades, ele mudará de emprego na primeira oportunidade.
É mais fácil baixar uma portaria do que lidar com esses problemas estruturais. E há que desconfiar, sempre, quando o governo cria mais barreiras para fornecer licenças. Pode ser a senha para os oportunistas prosperarem com as propinas por facilitação.
No mais, a má distribuição não é o único nem o principal problema dos cursos. Muito pior é a questão da qualidade dos jovens médicos. Mesmo em São Paulo, ela deixa muito a desejar, como mostrou o último exame do Conselho Regional de Medicina (Cremesp), no qual 55% dos formandos não conseguiram acertar 60% das questões.
O Planalto deveria privilegiar medidas menos chamativas, como ampliar as vagas de residência médica, torná-la obrigatória e exigir que todos os cursos contem com um hospital-escola. Além disso, urge implantar um exame nacional eliminatório para formandos.
É pouco provável que isso ocorra. De imediato, a ousadia só renderia gastos e reclamações ao governo, ora mais interessado em "mostrar serviço", como se diz.

FOLHA ON LINE

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